quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Eleições presidenciais na Bolívia (parte 2)

Justiça politizada pela nova Constituição

Na matéria seguinte, a Folha entrevista
George Gray Molina, ex-diretor do programa de desenvolvimento da ONU (Pnud) na Bolívia e disponibiliza em seu site três perguntas.

A primeira é sobre a percepção dos bolivianos sobre si mesmos a partir da ascensão de Morales à presidência. Talvez a Folha esteja buscando na resposta do analista político uma explicação para a segunda vitória do ex-cocaleiro...

Afinal de contas, Molina fez parte de um programa da ONU sobre desenvolvimento na Bolívia. Quem sabe ele não oferece a chave para compreender o resultado do pleito...

Sobre a percepção dos bolivianos, Molina identifica:

"O surgimento de um' senso comum' que apoia a mudança social, a democracia como resolução de conflitos, a emergência de novas elites políticas e sociais e as mudanças nas políticas de recursos naturais. Entre 70% e 80% da população o compartilha. Ao mesmo tempo, continua a polarização em torno de Morales. De toda forma, ele é o depositário do 'imaginário' de mudança. Muitos dos questionamentos da oposição sobre política econômica não afetam sua imagem. A oposição não persuade, simula conversa 'entre convertidos' -que não capta novos votos nem provoca um imaginário alternativo de esperança social e política."

Em princípio, portanto, Morales atuaria mais no campo do imaginário coletivo blindando a si contra todos os questionamentos de seus opositores. Molina não diz, mas parece dar razão às críticas da oposição e aposta suas fichas no convencimento popular como a causa da segunda vitória de Morales.

Questionado sobre a polarização racial na Bolívia, fomentada por Morales, Molina frustra a Folha apontando que a polarização tem pouco a ver com o indigenismo. Antes, a polarização
"tem a ver com as receitas dos recursos naturais e os projetos políticos que ganham ou perdem com a sua administração. Muito da polarização gira em torno de questões que afetam o equilíbrio de poder entre os projetos centralizados (MAS) ou descentralizados (autonomia) entre as novas elites (de extração popular) e as velhas (comitês cívicos, os partidos tradicionais)."

Convém assinalar o acerto da
Folha em entrevistar um analista que viveu a realidade boliviana (embora a reportagem não informe por quanto tempo). Essa segunda pergunta foi uma bola na trave.

Por fim, a terceira pergunta. Que gira em torno da nova Constituição. Ainda dá tempo de se recuperar e tirar de Molina algo que tire o brilho da vitória de Morales. Molina declara que a nova Carta, do ponto de vista político, "oferece uma ordem jurídica híbrida, que incorpora direitos liberais e comunitários, individuais e coletivos, estatais e de mercado. Essa busca de um híbrido é o apropriado para uma sociedade num processo de transição política e social acelerado."


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