quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Segunda chance para Shinzo Abe


A vitória recente de Shinzo Abe, do Partido Liberal Democrata, foi abordada no New York Times em seu Editorial de 19 de dezembro de 2012. Conforme os editorialistas, o político e seu partido, considerados uma relíquia de uma ordem política pós-guerra esgotada, ganha uma segunda chance.

O retorno de Shinzo Abe e seu partido representam uma nova chance de moldar o futuro da terceira maior economia do mundo. O jornal se diz a favor de uma política econômica que estimule fiscal e monetariamente o país. Contudo, sublinha que as afirmações e gestos nacionalistas de Shinzo são motivo de preocupação.

Por exemplo, a visita que ele fez ao Santuário de Yasukini e que a imprensa internacional entendeu como um gesto que pode acirrar as tensões entre o Japão e seus vizinhos.


domingo, 29 de julho de 2012

A Álgebra é necessária?



No Sunday Review de ontem (29/07), caderno de opiniões do New York Times, Andrew Hacker, professor de Ciência Política no Queens College, publicou um longo texto em que discute um grave problema no sistema educacional nos EUA.


Especificamente, os baixos rendimentos obtidos pelos alunos estadunidenses, desde os níveis mais fundamentais até o nível superior, em álgebra. Com efeito, Hacker reconhece o quão importante é aprender matemática. Entretanto, ele também considera que quanto mais examina essa questão, mais claro fica para ele que os argumentos utilizados para defender o ensino de álgebra estão largamente ou completamente errados, à medida que eles - os argumentos - não se sustentam em pesquisas ou evidências.


O autor então menciona dados numéricos impressionantes que mostram que muitos alunos em alguns estados dos EUA não são aprovados, segundo vários professores com quem ele conversou, por causa fundamentalmente da álgebra.


E como muitos alunos repetem mais de um ano, acabam desistindo de estudar. Além disso, somente 58% dos alunos que ingressam no nível superior concluem o bacharelado. O principal impedimento à graduação: matemática.


Ademais, não se observa com clareza que a matemática ensinada tenha qualquer relação com o raciocínio quantitativo exigido no mercado de trabalho. Não obstante, antes que um cético venha advogar a dispensa da álgebra do currículo escolar, Hacker afirma que a culpa não é da disciplina. Antes, ele insiste na necessidade de as pessoas adquirirem habilidades básicas com números.


Porém, uma análise feita pelo Georgetown Center on Education and the Workforce mostra que na próxima década meros 5% da mão de obra terá necessidade de ser eficiente em álgebra. Apesar disso, Hacker concorda amplamente com Peter Braunfeld que assevera que nossa civilização entraria em colapso sem a matemática.


Por essa razão, ele lista uma série de situações cotidianas que seriam impossíveis sem o conhecimento da matemática. Por exemplo, calcular os impactos das mudanças climáticas, só para citar um assunto da moda. Em seu ponto de vista, não precisamos de livros com fórmulas, mas de um maior entendimento sobre os números e o que eles trazem consigo. Nesse sentido, muito embora a matemática implique desenvolvimento intelectual, não há "evidências de que ser capaz de provar que (x² + y²)² = (x² - y²)² + (2xy)² leva alguém a ter opiniões políticas ou fazer análises sociais dignas de crédito".

Assim, em vez de investir tanta energia acadêmica ensinando matemática para quem não necessitará dela - neste caso, Hacker refere-se a poetas ou filósofos - seria hora de pensar em alternativas. Os professores de matemática, portanto, ensinariam menos equações e pensariam maneiras de familiarizar os estudantes com tipos de números que delineiam e descrevem nossas vidas públicas e privadas. Por conseguinte, aos estudantes seria ensinado como calcular taxas de inflação, o que é incluído e como cada item pesa nos índices de preços.


Fechando suas ideias, Hacker frisa que não há por que forçar os estudantes a aprender ângulos vetoriais e funções descontínuas. O ensino de matemática deveria ser voltado para as áreas em que ela tivesse aplicabilidade.


Não sei... Você tem alguma alternativa ou sugestão? 










sexta-feira, 20 de julho de 2012

Contra fatos...


Um antigo adágio dizia: "contra fatos não há argumentos". Contudo, como assinala Wilson da Silva, no site da Cosmos magazine, há determinadas crenças que, mesmo quando contrapostas às mais completas evidências disponíveis, insistem em manter-se inabaláveis.

Segundo o texto, não há como envolver-se em debates com certas pessoas. Silva cita os que não creem nas mudanças climáticas, os criacionistas e um grupo que eu ignorava, o de pessoas contrárias à vacinação. Penso que a lista poderia se estender consideravelmente.

Caso se resolva discutir com pessoas caninamente fieis às suas crenças inabaláveis, é preciso ter clareza de um "fato": a cada falácia, concepção equivocada, inconsistência ou mesmo falsificação de dados que seja demonstrada por meio de evidências e raciocínio lúcido, sempre emergirão argumentos contrários tentando provar a incoerência das proposições científicas. Como ele sublinha, "é como entrar numa luta contra a Hydra, a serpente mítica com 100 cabeças que, mesmo quando qualquer uma delas é fatalmente atingida, logo uma outra cresce em seu lugar".

Em abril deste ano, Silva participou de um encontro de jornalistas da ciência e pesquisadores sociais na Universidade de Wiscosin (deve ter sido muito maneiro) onde discutiu-se a Escrita da Ciência em um Era de Negação. No encontro, um dos presentes, o professor de biologia molecular e genética Sean B. Carroll, listou os seis passos usados por todos os negadores da ciência:

1. Duvidar da ciência. (Conheço muitos)
2. Questionar os motivos e os interesses dos cientistas. (Conheço poucos)
3. Maximizar as discordâncias normais e legítimas entre cientistas e citar como autoridade discursos não-científicos. (Conheço muitos que agem assim)
4. Exagerar os danos potenciais da crença na ciência (e amedrontar as pessoas). (Conheço também que age desse jeito)
5. Apelar para liberdade pessoal, argumentando que nenhum governo deveria dizer quais vacinas eu preciso tomar. (Não conheço ninguém assim)
6. Mostrar que aceitar a ciência representaria repudiar a filosofia comum compartilhada ou visão de mundo albergada pela maioria das pessoas.

Outro participante, citado por Silva, o escritor de ciência Christie Aschwanden, observou que as pessoas não assimilam os fatos em um vácuo, mas as filtram conforme seus sistemas de crenças pré-existentes. Nesse sentido, as pessoas demonstram tendência a procurar evidências que se conformem às suas visões. Implica dizer, "buscamos os fatos que confirmam o que já acreditamos e rejeitamos aqueles que contradizem nossa visão de mundo".

Silva frisa que levar fatos a uma audiência que não quer ouvi-los é caminho para um impasse. Afinal, quanto mais forte a crença pré-existente, mais forte é a motivação para rechaçar a evidência contrária. É preciso ser sempre respeitoso com sua audiência, ele diz. Porém, deve-se defender com todas as forças as evidências e manter-se firme contra charlatães.

Silva sugere, digamos, técnicas para facilitar a explanação de evidências científicas e lograr mudar a visão das audiências. Uma delas, e que ele considera essencial, é o uso do humor. Embora ciência seja um assunto sério, isso não significa que ela não possa ser discutida por um lado engraçado, "especialmente aquele lado que gentilmente ridiculariza seu oponente". Com efeito, "enquanto sua audiência ri, você sutilmente trouxe seus ouvintes para mais perto do seu campo".

O artigo prossegue ainda por algumas linhas, mas nada muito relevante. As ideias mais importantes estão aí para você ler e pensar.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Racistas são estúpidos

Racismo e baixo Q.I.

Quem consulta com certa frequência publicações científicas, ou que toma conhecimento das novidades por meio de revistas de divulgação vendidas em bancas de jornais, sabe que de vez em quando surgem pesquisas que acendem polêmicas.

Uma das mais recentes, tem tudo para suscitar debates acalorados se ganhar projeção midiática. Conforme o autor desse estudo, Dr. Gordon Hudson, o racismo e a filiação política conservadora estariam intrinsecamente ligados a baixos níveis de Q.I.

A ideia central da pesquisa é que pessoas com baixo Q.I. gravitam em torno de ideologias socialmente conservadoras indicando resistência a mudanças de ideias. E, Hudson explica, para essas pessoas de baixa inteligência, adotar essas formas de ideologia que conferem "estrutura e ordem" tornam mais fácil "compreender um mundo complicado".

Assim, consultado pela reportagem, o Dr. Brian Nosek, psicólogo da Universidade de Virgínia, concorda com os resultados da pesquisa, frisando que ideologias impõem soluções mais simples, de modo que não é, segundo ele, "surpreendente que pessoas com menos capacidade cognitiva sejam atraídas por ideologias simplificadoras".

Apesar de os argumentos do Dr. Hudson parecerem convincentes, eles carregam problemas. Com efeito, no século XIX, vários intelectuais europeus partilhavam de uma mentalidade etnocêntrica e qualificavam negros, asiáticos e outras etnias como bárbaras e, portanto, inferiores. Não consta que intelectuais racistas desse porte tivessem baixo Q.I.

Praticamente todos os europeus do século XIX, fossem filósofos, homens de ciência, religiosos, eram etnocêntricos, logo, racistas. Como exemplo, o criminalista italiano Cesare Lombroso e sua fisiognomonia, um desdobramento científico do racismo próprio daquele século e que angariou muitos adeptos, na Europa e no Brasil.

A fisiognomonia pensou ter a capacidade de descrever "a índole de uma pessoa através da análise de seus traços físicos particulares" (OLIVEIRA, 2004:56). Hoje é sabido que faltava-lhe qualquer fundamento científico sério, mas, na época, foi instrumento de reforço dos preconceitos da sociedade burguesa. Sendo inclusive utilizada como esteio para discursos religiosos racistas do tipo que estabeleciam diferenciações entre raças superiores e raças inferiores.

Em suma, cientistas das mais diferentes especialidades e de diferentes períodos históricos empregam dados de suas pesquisas para reforçar (Lombroso) ou desqualificar (Hudson) o racismo. Cumpre ressaltar que, com ou sem fundamento científico, os racistas ainda se fazem presentes na sociedade atual. O vídeo abaixo contém algumas cenas fortes, mas é para relembrar que a ignorância é o principal mal a se combater:



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, Pedro P. A Construção social da masculinidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.

sábado, 5 de março de 2011

Ideologia












Acabar com as ideologias


Embora o finado Cazuza clamasse por uma ideologia para viver, o jornal O Globo entende como uma praga aqueles que vivem, sentem e agem em função de alguma ideologia. O editorial do dia 5 de março - "O caso líbio e a América Latina" - aproveita a crise seguida de guerra civil que se desenrola na Líbia para incutir em seus leitores o quão pernicioso é governar com a maldita ideologia como pano de fundo.

São sete parágrafos. Cinco menções à ideologia. Todas numa perspectiva negativa.


Para o editorialista, quanto "menos ideologia" no cenário político internacional, mais bem fluirão as ações multilaterais no combate às grandes crises mundiais. Por sua vez, o governo Dilma corrige os rumos da política externa de seu antecessor, o presidente operário, ao afastar-se da "excessiva ideologização da Era Lula". Assim, convém enfatizar, "a redução do componente ideológico da política externa" do novo governo ocorre em boa hora.

No entanto, apesar da reorientação do governo Dilma, a América Latina encontra-se atada a uma ideologia, alimentada pelo caudilho Hugo Chávez, que tenta esvaziar a influência dos EUA no continente. Com efeito, a Unasul (União das Nações Sul-Americanas) seria, conforme as palavras do editorialista, uma das instituições desse nosso continente movida "mais a ideologia do que a qualquer outra coisa". A outra instituição, "baseada em ideologia", seria a Alba (Aliança Bolivariana das Américas).

Que ideologia seria essa?

sábado, 30 de janeiro de 2010

O TEMPO (parte 3)

Um exemplo de exegese absolutamente fora de contexto

Perto do fim do texto, o articulista assevera:

"Aliás, a Bíblia ensina a regeneração de tudo (Mt 19,28; Is 45,23; Rm 14,11)."

Isso eu chamo de exegese absolutamente fora de contexto. Senão vejamos:

Is 45,23: "diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua".

Rm 14,11: "todo joelho se dobrará diante de mim e toda língua dará glória [ou 'confessará] a Deus".

Mt 19,28: "vós, que me seguistes, vos sentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel".

Paulo está escrevendo para todos os "cristãos" ou sua carta se dirige exclusivamente aos membros da
ekklesia de Roma? E, mais importante, em que contexto? Quando nós lemos todo o capítulo 14 da epístola aos Romanos, que é o procedimento exegético correto, percebemos que o apóstolo está admoestando seus confrades quanto ao fato de uns estarem julgando os outros dentro da comunidade e vice-versa. É esse contexto e esse direcionamento que o faz citar Isaías e nada, absolutamente nada, na passagem permite afirmar que ela aponta para toda a humanidade no futuro e, mais que isso, que os "demônios" foram pensados quando a citação bíblica foi feita por ele.

Da mesma forma, a fala profética de Isaías, só com muita boa vontade é que podemos incluir os "demônios" nela. Novamente, lendo o capítulo inteiro, fica evidente que nada nele permite inferir que os "demônios" também se dobrarão. Aliás, se esse fosse o caso, o dito profético os mencionaria explicitamente.

Em suma, "a Bíblia ensina a regeneração..." é uma simplificação grosseira. Mais certo seria dizer que,
versículos escolhidos fora de contexto de apenas três livros de toda a Bíblia cristã podem, numa exegese extremamente forçada, corroborar a opinião.

Por meio de versículos escolhidos a dedo e fora de contexto qualquer um pode afirmar que a Bíblia ensina isso ou aquilo. Desse jeito, até eu escreveria em jornais e revistas.

O TEMPO (parte 2)

É preciso trabalhar com as fontes honestamente

Continuando o artigo, o autor menciona que:

"Orígenes com sua tese da apocatástase ensinava que os demônios, no futuro, se regenariam, já vislumbrando que eles eram seres humanos".

Bem, em alguns de seus escritos, Orígenes se perguntava se seria possível os demônios se converterem à medida que "a maldade, uma vez livremente aceita, pode se tornar uma parte de sua natureza". (Cf. Origène
, Traité des Principes, I,6,3; p.203). Em uma carta enviada aos amigos de Alexandria, ele nega ter ensinado a salvação dos demônios (Cf. H. CROUZEL, Origène, Paris-Namur, Culture et Vérité-Lethielleux, 1985, p.337).

Ou seja, o que nós podemos afirmar, com toda a certeza, é que Orígenes pendia ora para um lado, ora para outro. Seria correto, eu pergunto, construir uma argumentação embasada em uma fala de um autor cristão da antiguidade, porque ela corrobora a nossa opinião, sem informar aos leitores que esse mesmo autor, em outros momentos, fazia declarações na direção oposta?

Assim, o que pensava Clemente, um autor cristão anterior a Orígenes, a respeito da purificação das almas (Cf.
Stromates, VII,12)? Cito Clemente apenas para termos a noção de que vários outros Pais da Igreja abraçavam outras ideias sobre o futuro das almas e, por extensão, dos chamados demônios. Ou seja, mencionar um autor, fazendo de conta que ele representa a maioria ou é o porta-voz da visão "oficial" da Igreja não me parece um bom procedimento metodológico.

É preciso manejar as fontes honestamente.