sábado, 30 de janeiro de 2010

O TEMPO (parte 2)

É preciso trabalhar com as fontes honestamente

Continuando o artigo, o autor menciona que:

"Orígenes com sua tese da apocatástase ensinava que os demônios, no futuro, se regenariam, já vislumbrando que eles eram seres humanos".

Bem, em alguns de seus escritos, Orígenes se perguntava se seria possível os demônios se converterem à medida que "a maldade, uma vez livremente aceita, pode se tornar uma parte de sua natureza". (Cf. Origène
, Traité des Principes, I,6,3; p.203). Em uma carta enviada aos amigos de Alexandria, ele nega ter ensinado a salvação dos demônios (Cf. H. CROUZEL, Origène, Paris-Namur, Culture et Vérité-Lethielleux, 1985, p.337).

Ou seja, o que nós podemos afirmar, com toda a certeza, é que Orígenes pendia ora para um lado, ora para outro. Seria correto, eu pergunto, construir uma argumentação embasada em uma fala de um autor cristão da antiguidade, porque ela corrobora a nossa opinião, sem informar aos leitores que esse mesmo autor, em outros momentos, fazia declarações na direção oposta?

Assim, o que pensava Clemente, um autor cristão anterior a Orígenes, a respeito da purificação das almas (Cf.
Stromates, VII,12)? Cito Clemente apenas para termos a noção de que vários outros Pais da Igreja abraçavam outras ideias sobre o futuro das almas e, por extensão, dos chamados demônios. Ou seja, mencionar um autor, fazendo de conta que ele representa a maioria ou é o porta-voz da visão "oficial" da Igreja não me parece um bom procedimento metodológico.

É preciso manejar as fontes honestamente.

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