segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Pela família, contra governo "ateu", atrás de votos

Católicos saem em defesa da "família tradicional". Igreja reproduz discurso de partido da oposição.

Num país cuja legislação sobre costumes tornou-se uma das mais liberais do mundo -- a Espanha -- milhares de espanhóis demonstraram a força do conservadorismo católico numa manifestação gigantesca contra o governo do premiê social-democrata José Luis Rodriguez Zapatero, informa o jornal inglês The Independent. (Aqui em Pindorama, nossos jornais e TV's nada nos disseram sobre este fato)

A concentração "Por la familia cristiana", segundo cálculos do jornal espanhol El País um contingente em torno de 160 mil pessoas aglomeradas na praça Colón de Madri, protestava contra o governo "ateu" de Zapatero em função da aprovação do casamento gay e da simplificação do divórcio. Direto da praça São Pedro, no Vaticano, os espanhóis assistiram num enorme telão, o papa Benedict XVI afirmar:

"Baseada na união indissolúvel entre o homem e a mulher, [a família] representa o local privilegiado em que a vida humana é bem-recebida e protegida desde o início até o seu fim natural. Vale a pena lutar pela família e pelo casamento, porque vale a pena lutar pelo ser humano, o ser mais precioso criado por Deus".

Para o presidente da Conferência dos Bispos da Espanha, Ricardo Blazquez, dizia-se que a "família tradicional" era um anacronismo, porém, ele fez questão de ressaltar que a "família tradicional está enraizada na natureza humana e sua validade é um fato de ontem, hoje e amanhã". Já o arcebispo de Valência atacou a "cultura do secularismo", para ele, "uma fraude que conduz ao desespero pelo caminho do aborto, do divórcio express e das ideologias que pretendem manipular a educação dos jovens".

O secretário de Organização do PSOE, José Blanco, partido do premiê Zapatero, pediu uma retificação a Igreja Católica devido a afirmação feita por seus representantes de que o governo espanhol estaria dando marcha a ré no que diz respeito a Declaração dos Direitos Humanos. Acrescentou o secretário que a concentração tratou-se de um ato do Partido Popular, "presidido por uns cardeais" e que, há dois meses das eleições gerais, a Igreja reproduzia o mesmo discurso do PP, numa "intromissão na campanha eleitoral".

Conforme o Ministro da Justiça espanhol, Mariano Fernández Bermejo, o "nacionalcatolicismo" entrou na campanha eleitoral pelas mãos de sua hierarquia eclesiástica e da direita mais reacionária, lançando mensagens "coincidentes com as conhecidas teses defendidas pelo Partido Popular".

País de maioria católica, parece legítimo que os adversários da união civil entre pessoas do mesmo sexo e da dissolvição do casamento, manifestem-se publicamente. Afinal, para estas pessoas, o casamento deve unir, para sempre, homens e mulheres. E somente. Para elas, tais medidas conspiram para a destruição da instituição familiar e devem ser revogadas.

Não pode ser alimentada, contudo, a ilusão de que 100% dos católicos na Espanha apóiam a manifestação da praça de Madri. Hoje, muitos dos que se dizem católicos, no que se refere a questões de foro íntimo, pensam e agem contrariamente às determinações do Vaticano.

Convém perguntar ainda se é justo que um casal permaneça unido quando o amor já não mais o liga. Sabe-se de muitas uniões conjugais em que o "amor" não estava na base do mesmo desde sua formação. Casamentos arranjados, obrigados, contratados.

Casais gays anunciam novas e possíveis configurações familiares. Os homossexuais têm os mesmos direitos que os heterossexuais "normais" a constituir família.

domingo, 30 de dezembro de 2007

A batalha dos livros sagrados

Na contenda pela alma humana, cristãos e muçulmanos investem nos seus livros sagrados.

A revista britânica "The Economist", em sua edição de final de ano, apresenta dados que mostram como os negócios de marketing da Bíblia e do Alcorão dizem muito sobre o estado dos cristãos e muçulmanos modernos.

Cristãos e os seguidores do Islã compartilham um aspecto em comum: ambos são conhecidos como o "povo do livro". Têm também como uma de suas obrigações disseminar a Palavra, pondo seus livros sagrados nas mãos e nos corações de tantas pessoas quanto elas possam alcançar. Mas difundir a Palavra não é uma tarefa fácil. A Bíblia é por demais extensa e, às vezes, entediante. O Corão, menor do que o Novo Testamento, é, para alguns ocidentais, muito difícil de ler e entender.

Os números sobre os livros, no entanto, são impressionantes. A Bíblia está, no todo ou em parte, disponível em nada menos que 2.426 idiomas, cobrindo 95% da população mundial. Por ano, mais de 100 mil cópias são vendidas e a ONG religiosa Gideons International distribui bíblias para hospitais, hotéis e prisões ao ritmo de uma bíblia por segundo (salve, salve meu São Google!). O Corão não é somente o livro mais lido no mundo islâmico, mas também o mais recitado. O supremo objetivo na vida de um muçulmano é tornar-se um repositório humano do livro sagrado.

A Bíblia e o Corão atingiram escala global. Segundo a "The Economist", em 1900, 80% dos cristãos do mundo viviam na Europa e nos EUA. Hoje, 60% vivem no mundo desenvolvido. Atualmente, mais presbiterianos vão à sua Igreja em Gana do que na Escócia. Em 1900, o Islã concentrava-se no mundo árabe e no sudeste da Ásia. Neste início de século, pode haver tantos muçulmanos praticantes na Inglaterra quantos são os anglicanos praticantes.

Neste sentido, por que cristãos e muçulmanos estão sendo tão bem-sucedidos na difusão da Palavra, quando a tese da secularização, ou seja, de que o declínio da religião seria a inevitável conseqüência da modernização do mundo, parecia estar se tornando um fato irreversível?

Para a "The Economist", a resposta a esta questão reside no simples fato de que cristãos e muçulmanos estão conseguindo adeptos usando as próprias ferramentas da modernidade - globalização, tecnologia e a crescente prosperidade - como forma de ajuda para a distribuição de seus livros sagrados. Assim, por exemplo, acesse FreeKoran.com e você receberá gratuitamente um exemplar do Corão em suas mãos em poucas semanas.

A tecnologia tem mostrado-se uma amiga dos Livros Sagrados. Eles podem ser consultados na internet. Podem ser lidos em "Psalm pilot" (palm tops) ou em telefones celulares. Podem ser escutados em MP3 ou iPods. Uma propaganda pergunta: "Você quer plugar em Deus sem se desplugar da vida? Então simplesmente compre um Go Bible MP3 player". Já existe um MP3 player que "toca" os versos do Corão.

No entanto, há uma grande diferença entre ter e entender um Livro Sagrado. Americanos adquirem mais de 20 mil bíblias todos os anos para acrescentar à média de quatro exemplares que cada americano tem em casa. Uma pesquisa Gallup revelou que menos da metade dos americanos consegue dizer o nome do primeiro livro da Bíblia (Gênesis); só um terço sabe quem pronunciou o Sermão da Montanha (a resposta mais comum foi: o pastor Billy Graham!) e um quarto desconhece o que se celebra na Páscoa. Sessenta por cento não consegue citar a metade dos Dez Mandamentos e 12% pensam que Noé foi marido de Joana D'Arc.

Por outro lado, os muçulmanos preferem ler o Corão em árabe. O árabe arcaico, apesar de inspirador, pode ser difícil de entender mesmo para os educados na língua. Somente 20% dos muçulmanos falam o árabe como sua língua materna. Muitos estudantes do Livro Sagrado não entendem aquilo que estão memorizando.

Estes dados precisam estar na mente quando se considera quem está vencendo a batalha dos livros sagrados. Em várias partes do mundo, a batalha está em pleno andamento. Os sauditas não permitem que a Bíblia seja distribuída em seu território. Um Seminário Teológico Batista no Texas treina missionários especificamente para converter muçulmanos. Alguns evangélicos produzem contrafactuais do Corão para semear a dúvida em mentes islâmicas.

Contudo, no meio acadêmico há a percepção de que o Islã superará o Cristianismo por volta de 2050. Mas a "Guerra ao Terror", suscitada pelos atentados do grupo islâmico radical Al-Qaeda às Torres Gêmeas, tem tornado muito mais difícil a difusão do Corão no mundo. As contribuições à beneficência islâmica têm se reduzido consideravelmente e as organizações missionárias estão sob os olhares atentos dos serviços de inteligência ocidentais.

Por esta e outras razões os muçulmanos estão levando desvantagem na batalha dos livros sagrados. Convém levar em conta outras três vantagens do lado cristão. A primeira, a habilidade superior em marketing. Hoje, existem bíblias para todos os gostos e maus gostos. Coloridas, para adolescentes, para vaqueiros, para homens de negócios, à prova d'água, em linguagem formal ou rebuscada, traduções para línguas faladas apenas por pequenas comunidades, há até uma excêntrica tradução da Bíblia para o idioma Klingon, uma língua falada pelos extraterrestres da série Star Trek. Já estão em fase de produção para o cinema, filmes bíblicos e um, chamado "A Experiência da Bíblia", com a participação dos maiores atores negros de Hollywood.

A segunda vantagem, os cristãos têm nos EUA. O país mais rico e mais poderoso conta com cerca de 80 milhões de evangélicos, sustentando mais missionários, mais organizações de difusão, televisionada ou por rádio, e mais editores do que qualquer outro país do mundo. Apesar de estar presente em alguns países ricos em petróleo, o Corão é majoritário em muitos países pobres. O mundo árabe é um dos mais altamente iletrados do planeta: um quinto dos homens e dois quintos das mulheres são incapazes de ler. O uso da internet é um dos mais baixos do planeta.

Para a "The Economist" a terceira e fundamental vantagem do cristianismo consiste na crença ocidental na liberdade religiosa, garantida pela Constituição nos EUA e pela aversão à perseguição religiosa, na Europa. A terra natal do Islã, por outro lado, é teocrática. A Arábia Saudita proíbe cultos não-islâmicos e as tentativas de converter muçulmanos a outra fé são vistas como uma ofensa criminosa. No Sudão, o "desvio religioso" é punido com o encarceramento.

Enfim, duas coisas são certas, conclui a revista britânica: o impulso para difundir a Palavra estimulará alguns dos mais ferozes conflitos do século 21 e a Bíblia e o Corão continuarão a exercer uma dramática influência sobre os eventos humanos, para o bem ou para o mal.

Não é por outro motivo que minha assinatura eletrônica contém a seguinte consideração: "Não será a hegemonia de um sistema político, econômico, cultural ou de uma Religião que trará a Paz. A Paz virá quando aprendermos a conviver com as diferenças".

sábado, 29 de dezembro de 2007

Onde estão os extraterrestres?

Desde o colossal sucesso do filme "E.T." de Spielberg, muita coisa mudou na busca dos cientistas por vida fora da Terra.




É o que diz artigo de Marta Ricart, no site do jornal espanhol La Vanguardia. Em verdade, a mudança havida deveu-se ao fato de que a busca por vida, inteligente ou não, fora da Terra se confundiu com as estórias pitorescas de OVNI's, retraindo muitos pesquisadores.

Há 25 anos nossa tecnologia para vasculhar o espaço era incapaz de detectar planetas extra-solares, isto é, de fora do nosso sistema, ou procurar metano ou oxigênio, que são indícios de vida. No entanto, afirma Luis Cuesta, responsável científico pelos telescópios robóticos do Centro de Astrobiologia de Madri, "hoje conhecemos melhor os padrões de vida terrestre e podemos buscar indícios de vida em outros mundos".

Mesmo assim, quanto mais respostas os cientistas obtém, mais perguntas emergem. Será que o tipo de vida terrestre é o único possível? Pode existir vida na zona de habitabilidade das estrelas? Só para ficarmos com duas das questões que os pesquisadores fazem atualmente.

E se olhamos para nosso próprio planeta, os cientistas são constantemente surpreendidos por formas de vida em condições extremas, as quais até alguns anos atrás pensava-se ser impossível qualquer tipo de vida. Por conseguinte, os modelos de nosso sistema não se aplicam a planetas extra-solares.

No entanto, não temos provas de que exista vida fora da Terra. Mas nada que o avanço da tecnologia não permita num futuro próximo evidenciar.

Alguns crédulos gostam de obstar aos métodos científicos de busca por vida no espaço a alegação de que a procura é infrutífera por se pautar em parâmetros terrestres. Para os cientistas, este argumento não faz sentido, à medida que "não poderia haver outras formas, pois os 118 elementos químicos conhecidos são os que estão sendo identificados fora da Terra". Além destes elementos, não foram encontrados outros, antes, são esses que repetidamente se encontram entre as estrelas e planetas.

Críticas ao Sr. Ignatius

"Jefferson se opôs aos beatos, não à Religião", afirma missivista no The Washington Post


Nesta manhã de sábado, acessei o The Washington Post e me deparei com esta afirmação de um leitor do jornal norte-americano, na seção "Cartas ao Editor". Trata-se de mais uma resposta ao texto de David Ignatius publicado na edição de 27 de dezembro.

O leitor, Don Patterson, chama a atenção para um aspecto que, segundo ele acredita, Ignatius deixou passar: como a desenfreada racionalidade secular tão facilmente permite que interesses joguem a moralidade para bem longe.

Segue o leitor atentando para o fato de que Jefferson jamais promoveu a secularização ou opôs-se a religião como uma fonte de orientação para cidadãos e lideranças políticas. Ele se opunha, isto sim, aos beatos déspotas, politicamente controladores, e mesmo que ele pudesse ter confiado excessivamente na superação do dogma religioso pela razão, para Jefferson, no entanto, a "religião promovia a moralidade e a moralidade era central para o sucesso da democracia", encerra seu comentário o leitor do jornal de Washington.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Suicídios em massa são apagados dos livros

Ministro da Educação, Ciência e Tecnologia do Japão aprova reintrodução de alusão a crimes cometidos durante a 2ª Guerra, afirma jornal japonês Daily Yomiuri

Não é coincidência, mas a matéria do jornal japonês, disponível no site do próprio ou no da BBC de Londres, ilustra o pensamento de Marc Ferro que expus em tópico anterior.

O episódio apagado dos livros escolares diz respeito ao envolvimento de militares das Forças Armadas do Japão no decorrer da Segunda Guerra Mundial nos suicídios em massa ocorridos na cidade de Okinawa.

A aprovação das correções pelo Ministério, conforme assinala o jornal, é sem precedentes na história do país. No texto original suprimido havia referências a "coerção dos militares" para que os habitantes de Okinawa se suicidassem.

Segundo a reportagem do jornal japonês, os editores de livros didáticos foram forçados a deletar as referências à coerção dos militares quando os livros já estavam no processo de impressão. Como reclamaram do fato, o Conselho do Ministério da Educação procurou ouvir a opinião de nove especialistas em história militar e na Batalha de Okinawa. Quer dizer, consultaram historiadores...

Os especialistas afirmaram, conforme a edição em inglês do jornal Daily Yomiuri, que "do ponto de vista dos habitantes de Okinawa eles foram levados ao suicídio por uma série de circunstâncias e fatores", acrescentando que a pressão dos militares foi um dos fatores principais.

Entretanto, continuaram os experts consultados, se ordens diretas foram expedidas para os suicídios, "não há como este ponto ser confirmado". Protestos realizados na prefeitura de Okinawa (nem o jornal, nem o site da BBC dizem quem foram os protestantes) foram importantes e forçaram o ministro a permitir que os livros escolares contivessem após a expressão "com o envolvimento de militares japoneses" esta outra "o povo foi levado a cometer suicídios em massa".

Em resumo, todos saíram em desvantagem. Pôr na publicação "envolvimento" e não "coerção", ameniza o papel dos militares, mas responsabiliza os moradores de Okinawa pelo gesto suicida. De qualquer maneira, confirma-se o dito de Marc Ferro a respeito dos organismos que exercem controle sobre o nosso acesso ao passado.



A História Vigiada

Quem controla o nosso acesso ao passado?

Em livro escrito no ano de 1985, mas publicado aqui quatro anos depois, o historiador Marc Ferro fazia um alerta sobre as limitações impostas aos historiadores profissionais.

Assim, já no prefácio do livro, Ferro tecia considerações importantíssimas sobre aspectos da produção do saber histórico em nossa atual condição "pós-moderna" que merecem uma análise crítica.

Ferro principia seu escrito sinalizando para uma convicção pessoal de que "hoje, mais do que nunca, a história é uma disputa." Afinal, conforme ele
acertadamente aponta, "controlar o passado sempre ajudou a dominar o presente".

Para Ferro, portanto, quanto maior fosse a difusão do saber, maiores e mais rigorosos seriam o controle sobre a produção histórica. Controle este emanado do Estado e de seus organismos, mas também da sociedade, que se dedicaria a fazer todo tipo de "censura e autocensura" a "qualquer análise que possa revelar suas interdições, seus lapsos, que possa comprometer a imagem que uma sociedade pretende dar de si mesma".

O historiador francês então exemplifica recorrendo ao cinema e suas produções "históricas" para frisar que, nos Estados Unidos, em que a produção de westerns (os famosos filmes sobre o Velho Oeste) é infinita, existem "muito poucos filmes históricos em que os negros sejam colocados em cena". O mesmo podendo ser dito, continua Ferro, acerca das nações indígenas.

Por conseguinte, "a sociedade freqüentemente impõe silêncios à história; e esses silêncios são tão história quanto a história".

Assim, precisamos nos perguntar, ao lado de Ferro, "sobre as condições que determinam a produção e a natureza das obras históricas, quer dizer, que temas elas privilegiam, de que maneira os abordam e como esses dados evoluíram através do tempo".

Em breve voltarei a este assunto.




Religião e Política
















Se os Pais Fundadores eram homens do Iluminismo, a razão governava sua maneira de pensar.


Por conseqüência, a política norte-americana, herdeira de Jefferson e Adams, não precisa de políticos religiosos, como Mitt Romney. Acho que este é, no fundo, o cerne da oposição do Sr. Ignatius à candidatura do homem de negócios-feito-político mórmon.

Assim, as cartas por eles trocadas (pelo menos as que o colunista do The Washington Post selecionou) deixariam clara a idéia que religião e política não se misturam, ou antes, que a primeira é nociva à segunda.

Logo, não faria o menor sentido alegar, como fez no discurso "Faith in America" (http://www.mittromney.com) o empresário pré-candidato à presidência dos EUA, que, assim como os Fundadores pediram bênçãos a Deus nos momentos de maior perigo na luta por sua independência, que ele governaria com um olho na Constituição e o outro na Bíblia Sagrada.

A eventual vitória de Mitt Romney (na foto com sua esposa ao fundo) ao cargo de presidente da nação mais religiosa do mundo, resultaria numa teocracia?

Vou pensar...

Revoluções Liberais: o retorno

Como as classes sociais reagiram às transformações de seu tempo

Eu escrevi num post anterior que o livro de Aquino et al. propunha uma abordagem que o distinguia do outro livro didático.

Neste sentido, Aquino e cia. se perguntam sobre a maneira com que os resultados da revolução demográfica, da revolução industrial e o que veio no rastro, afetaram desigualmente as classes sociais do período.

No livro precedente, as autoras não se preocuparam em definir e distinguir, sequer apontaram, as classes sociais na América. Tudo bem, é direito que lhes assiste. Mas conforme formos investigando no texto de Aquino e cia. veremos como esta diferenciação é útil para não cairmos no erro de pensar que os "coloniais" formavam um bloco coeso e homogêneo. Elemento que o livro das professoras deixou de apresentar, ou apresentou tardiamente.

De uma maneira geral, sem se referir ainda ao contexto das Treze Colônias, Aquino e seu pessoal descrevem três grupos sociais que foram diferentemente "sacudidos" pelas transformações que aconteciam em bloco:

(1) A burguesia; (2) Operários das fábricas e assalariados agrícolas e urbanos e (3) a Nobreza feudal.

Cada um destes estratos sociais sofreu e reagiu à sua maneira às mudanças incessantes e irreversíveis. Ora, isso é bastante lógico, não é verdade? Cada força social e política tem suas expectativas, suas experiências, sua compreensão do que ocorre, seus projetos e assim por diante.

A sabedoria dos Fundadores racionais

Coluna de David Ignatius no The Washington Post sobre Jefferson e Adams recebe 181 comentários

Foi grande a repercussão do texto de David Ignatius em sua coluna no The Washington Post, com o título acima. Nada menos do que 181 post's foram escritos comentando seu texto.

Não li todos os 181 post's, mas, com paciência, verificarei o que os leitores manifestaram ao Sr. Ignatius.

Um destes leitores, por exemplo, reclama que a descrição de Ignatius sobre a crença religiosa, e também daqueles que se opõem a ela, é "tão vil e aviltante" que o fazem pensar se os crentes estão a salvo de praticar sua religião na América.

Um outro leitor comenta a coluna da seguinte maneira:

Amém e amém.

Posso eu sugerir que a resolução de Ano Novo mais apropriada e lucrativa para todos os que postaram aqui seria ler uma (melhor, duas) biografias dos Pais Fundadores de sua escolha e deixar que isto guie seu voto nas eleições de Novembro.

É, os debates estão mesmo esquentando. Em breve, outros comentários.




quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

As Revoluções Liberais




As transformações que estabeleceram uma sociedade capitalista liberal



Um livro didático que eu particularmente gosto muito é de múltipla autoria e chama-se "História das Sociedades: Das Sociedades Modernas às Sociedades Atuais" de Aquino, Jacques, Denize e Oscar.

Segundo os autores, "o Iluminismo contestava severamente as instituições do Antigo Regime e defendia os ideais liberais burgueses". Que diferença de abordagem, não é verdade? Agora, vemos um pano de fundo ideológico, mais a frente os autores apresentarão o contexto político-jurídico e econômico-social, e englobarão a Independência das Treze Colônias neste amplo movimento de contestação.

Em suma, olhando-se hoje para o passado, pode-se contemplar, na época, um conjunto de transformações que resultariam nas revoluções liberais do século XVIII. Teria ocorrido, conforme os professores, um aceleramento do processo revolucionário, cujas causas estariam em:

Rápido crescimento demográfico - resultado da queda do índice de mortalidade e da manutenção de elevado índice de natalidade, foi mais sensível nas cidades devido também ao êxodo rural. Esta Revolução Demográfica criou novos problemas, como o da necessidade de aumentar a produção de alimentos, que, em função da persistência de uma agricultura feudal e voltada para a produção de subsistência, atrapalhava mais do que ajudava.

Houve ainda uma tendência ao aumento do capital circulante, refletindo o afluxo de metais preciosos das Américas.

Em seguida os autores discorrem sobre as maneiras como as diferentes classes sociais reagiram diante dessas transformações.

Continua...

Sonhos Liberais e Democráticos



"Maturação da consciência política no seio de um povo"

É com esta expressão que as autoras definem a história constitucional dos Estados Unidos. Para elas, a Constituição norte-americana é "uma obra da razão, elaborada por uma elite de homens de boa vontade, interessados no bem comum, desprovidos de avassaladoras 'paixões constitucionais'". Seja lá o que isso tudo queira dizer...

Em função desta conclusão prévia, as autoras fazem um pertinente questionamento: "Terá sido o movimento separatista norte-americano um processo de descolonização ou uma revolução burguesa?" Boa pergunta, não posso negar.

E qual a resposta que elas oferecem? Segundo as professoras, isto não tem relevância, à medida que não altera a importância histórica do evento.

Em suma, o processo histórico que resultou na emancipação política das Treze Colônias em relação a Londres, para quem estuda por este livro didático, começa com as restrições inglesas aos comerciantes coloniais, prossegue com o incremento das diferenças, vê explodir movimentos de resistência "terroristas" e, de súbito, por meio de homens de boa vontade, interessados no bem comum (comum a quem?), sem que se saiba quais são suas convicções religiosas, se havia coesão interna, quais seus ideais e projetos, quase caindo do céu, organizam dois Congressos e proclamam a Independência.

Por conta disso, torna-se necessário consultar outro livro didático. Nossa próxima parada.


Descolonização ou Revolução Burguesa?


O Segundo Congresso Continental de Filadélfia

Como as relações entre as Treze Colônias e a metrópole (não se esqueça que agora nós já sabemos que havia "segmentos do sul") caminhavam para um ponto sem volta, os coloniais organizam o Segundo Congresso Continental de Filadélfia, em 1776.

Neste Congresso, "sob a liderança de Thomas Jefferson" (olha ele aí, minha gente, o senhor das cartas e da ilustração do post "Jefferson e Adams, homens do Iluminismo"!), foi "redigida a Declaração Unânime dos Treze Estados Unidos da América - a Declaração de Independência".

Quem era Thomas Jefferson??? Comerciante, industrial, pai-de-santo de candomblé???

"O Congresso confirmou George Washington (o ilustre senhor que ilustra este post) como comandante das tropas de independência". George quem? Parece até nome de jogador da NBA. Mas, frustram-se os estudantes que gostariam de saber de onde esse moço veio...

Enfim, mesmo com tantas lacunas, as autoras assinalam que as "lutas estenderam-se até 1783, quando Londres reconheceu, pelo Tratado de Versalhes, a independência dos Estados Unidos da América".

Será que as tropas norte-americanas eram mais sagazes do que as inglesas e por isso venceram? Ou foi a Inglaterra que bateu no tatame, desistindo da luta? E os franceses, tiveram alguma participacion? E os indígenas, sacos de pancada nos filmes de John Wayne, atuaram de que lado?

Mas o que eu quero saber mesmo é: raios me partam, quem foram os Pais Fundadores???

The Boston Tea Party


Embora pareça nome de banda de rock, este foi mais um dos incidentes daquele período.

Bem, "Boston Tea Party" quer dizer Festa do Chá de Boston e consistiu numa ação colonial contra os interesses ingleses. Em breves palavras, vejamos o que realmente aconteceu nessa "festa".

Disfarçados de índios, os coloniais "jogaram ao mar carregamentos de chá trazidos pela Companhia das Índias, e cujo preço baixo arruinaria os comerciantes locais, que se abasteciam em outras paragens", afirmam as autoras.

Coitados dos índios, levaram a fama. Infelizmente, os estudantes do ensino médio acabam por não saber se os "pele-vermelhas" sofreram alguma represália ou se foram mesmo acusados pelo incidente. Agora, pensando com meus botões (que botões?? eu estou sem camisa!! malditos clichês!!), embora não se possa falar ainda, para a época, em terrorismo, será que daria para classificar este gesto dos colonos como um ato "proto-terrorista"???

Adiante as autoras referem-se a mais um incidente: a ocupação militar do porto de Boston, principal canal de escoamento dos produtos norte-americanos, em 1774. É evidente que isto vai repercutir com mais intensidade sobre os anseios coloniais, não é verdade?

A resposta dos coloniais veio à altura: reunidos na Filadélfia, eles formam o Primeiro Congresso Continental de Filadélfia pedindo, é claro, por meio de um documento, que de boca nada conseguiriam, "o fim das medidas restritivas ao desenvolvimento das colônias".

Nem se a Virgem Maria pedisse, os ingleses aceitariam o pedido dos coloniais. Eu duvido.

Como peças de dominó que caem e derrubam as seguintes, Londres imediatamente intensificou a repressão, dando início aos conflitos armados. Infelizmente, só agora, no livro que estamos buscando aprender sobre a independência das Treze Colônias, é que aparecem os "segmentos conservadores do sul" que, do nada, aderem às idéias libertadoras.

Ora, havia divisões internas entre as Treze Colônias? Segmentos do Sul, que história é esta, baby? Alguém também notou que nada foi dito sobre os Fundadores, que foram o alvo da coluna de Ignatius?

A independência dos EUA


DOMINAÇÃO VERSUS RESISTÊNCIA


Se a metrópole "apertou" o controle sobre as colônias, é óbvio que é preciso perguntar a razão desta medida de restrição.

As autoras então apontam haver "fatores de ordem estrutural e conjuntural" (É legal fixar isto. Relações de causa e efeito, do tipo "A" leva a "B", facilitam o entendimento do processo histórico, ainda que nem sempre sejam inteiramente válidas empiricamente).

(a) Fator de ordem estrutural: a Revolução Industrial. Basta raciocinar, quanto mais se produz, mais mercados consumidores é preciso arranjar. Aonde a Inglaterra podia, de cara, conseguir um mercado consumidor para seus produtos? Responda comigo: nas Treze Colônias, na América inglesa, no futuro EUA, que é tudo a mesma coisa.

(b) Fator de ordem conjuntural: a Guerra dos Sete Anos entre a Grã-Bretanha e a França. Novamente, é fácil entender isto. Qual a guerra que não onera uma nação? Mesmo vencedora, a coroa britânica gastou muito de seus cofres. Vai sobrar para quem? Quem respondeu "Treze Colônias", acertou na mosca.

No ano em que a guerra acaba, os franceses, derrotados, mas muito malandros, "abraçaram a causa separatista norte-americana, buscando um meio de agredir indiretamente os ingleses", prosseguem as autoras. Sabe aquelas pessoas que não sabem perder? É, os franceses agiram assim... Entretanto, noto as limitações dos livros didáticos em geral, ou seja, um estudante um pouco mais curioso, gostaria de saber como os franceses abraçaram a causa separatista norte-americana, fato que o livro, até aqui, não mostra.

Um outra informação importante é que "muito antes da Guerra dos Sete Anos, os interesses das colônias e da metrópole se diferenciavam". Neste sentido, a metrópole baixa algumas leis prejudiciais aos interesses econômicos dos "coloniais" (atenção, não se preocupe em gravar os anos, mas em visualizar as "medidas" da metrópole contra os interesses coloniais):

- A Lei do Açúcar, em 1733, criando taxas proibitivas para a entrada do melaço vindo das Antilhas francesas;
- Em 1750, sob o pretexto de não prejudicar a indústria britânica, os colonos de Nova York e da Pensilvânia, foram proibidos de trabalhar o ferro;
- Em 1765, a Lei do Selo, estabelecendo que "todos os documentos legais e oficiais em circulação nas colônias eram obrigados a receber selos provenientes da metrópole". (A ilustração deste post é a revolta colonial contra o Stamp Act, isto é, a Lei do Selo)

Bem, a continuar deste jeito, a tensão entre os dois lados só tendia a aumentar mais e mais...

Aí pode surgir a questão: por que a Grã-Bretanha não aliviava um pouco? É mais ou menos perguntar por qual motivo o presidente Bush não retira as tropas do Iraque. Ou seja, como os sujeitos não têm controle sobre as variáveis do processo histórico e os fatos históricos não estão escritos nas estrelas, quer dizer, não tinham que acontecer desta ou daquela maneira ou estavam predeterminados para acontecer, os ingleses não imaginavam que toda aquela pressão resultaria em revoltas coloniais. Pelo menos, não naquele momento...

Livros didáticos de História



1776: Independência ou Revolução?

Suponhamos que um estudante do ensino médio tivesse a curiosidade de aprender um pouco mais sobre os Fundadores da nação norte-americana, assunto de post's anteriores, o que já seria uma raridade...

Suponhamos que ele ou ela não recorresse ao São Google, mas fosse ao bom e velho livro didático, o que ele encontraria?

Vejamos se os livros que eu tenho em casa esclareceriam as discussões que esquentam a imprensa norte-americana às vésperas das eleições para presidente.

O título desse post, por exemplo, eu tirei do livro História: das cavernas ao Terceiro Milênio de autoria de Myriam Becho Mota e Patrícia Ramos Braick, pela Editora Moderna.

O capítulo começa de uma maneira muito interessante, trazendo um questionamento sobre se é possível falar em liberdade nos EUA. Afinal, "práticas segregacionistas fazem parte da história da sociedade norte-americana desde a colonização". Assim, a história social nos Estados Unidos comprova que "o reconhecimento constitucional de um direito não significa, na prática, sua aplicação".

Ótimo. Já é possível estimular nos alunos um pensamento crítico, seja nos EUA, seja em nossa realidade tupiniquim.

Em seguida, as autoras defendem que o pioneirismo da América inglesa em sua ruptura com o sistema colonial deveu-se à "afirmação crescente de uma identidade própria, primeiro local e depois norte-americana, na medida em que os habitantes aumentaram sua força econômica e desenvolveram sua capacidade de se valer do direito para se defender".

Enfim, a precipitação da crise nas Treze Colônias, para as autoras, foi uma conseqüência de "medidas erradas" tomadas no "momento errado" por Londres. Que medidas foram estas?
Intensificação do controle sobre o comércio norte-americano e atlântico.

Por que "no momento errado"?

Justamente quando as colônias queriam relaxar os controles existentes como dar-lhes um fim, nem tanto por razões econômicas, guardem isso, mas por fatores políticos: "os coloniais sentiam-se fortes e prósperos, queriam ter liberdade de movimentos e ação".

Continua...




Um mórmon na Casa Branca? (parte 2)


"Não confundi os ensinos particulares de minha Igreja com as obrigações do cargo de governador e a Constituição", afirma Romney no discurso.

Em decorrência disto, o pré-candidato religioso garante aos eleitores que, na Presidência de seu país, também não confundirá as estações. Quem viver, verá...

O discurso segue numa insistente auto-defesa de que as questões religiosas, de forma alguma, interferirão na condução das políticas norte-americanas. "Quando eu coloco minha mão sobre a Bíblia e faço o juramento, este juramento torna-se minha mais alta promessa a Deus", garante Romney com toda a convicção.

Assim, se superar seus adversários, Romney afirma que "não servirá a nenhuma religião, a nenhum grupo, a nenhum interesse", pois um presidente, "deve servir apenas a causa comum do povo dos Estados Unidos".

Eu juro que vou me esforçar para acreditar nesta última consideração. Ah, vou mesmo... Afinal, quem não gosta de ser enganado por políticos???

Creio que, até este ponto, já dá para divisar com quem o pré-candidato republicano está dialogando. Com aquela parcela do eleitorado que oferece resistência a candidaturas políticas de filiação religiosa. Ou que tem severas dificuldades com os mórmons... Pronto, mais um assunto que me proponho a pesquisar em breve. Um assunto sempre puxa outro, não tem jeito.

Prosseguindo em sua fala, Romney afirma que "eles" prefeririam que ele simplesmente se distanciasse de sua religião, dizer que ela mais uma tradição do que sua convicção pessoal ou repudiar um ou outro de seus preceitos. No entanto, "isto é o que eu não farei", ressalta o pré-candidato.

"Eu acredito na minha fé mórmon e empenho-me para vivê-la. Minha fé é a fé de meus pais - eu serei verdadeiro com eles e com minhas crenças", corajosamente diz Romney.

Se concorda com a necessária separação entre religião e política, Romney, contudo, acredita que da forma atual, esta separação está muito além de seu significado original. Para ele, os Fundadores não aprovavam a eliminação da religião do espaço público. (Pelo visto, aqui já podemos observar uma das motivações de Ignatius em sua coluna)

Por este motivo, ele, como presidente, promete ter cuidado para "separar os negócios do governo de qualquer religião, porém não nos separarei de 'Deus que nos concedeu a liberdade'".

O resto do discurso não faz menções significativas aos Pais Fundadores que mereça comentário, mas segue no mesmo tom, ou seja, prevenir o eleitorado que sua condição de mórmon não implica obstáculo, nem a sua candidatura ou a uma eventual ocupação da presidência. Muito pelo contrário...

Em suma, a oposição de Ignatius ao discurso de Romney parece fundamentar-se em sua leitura pessoal das convicções religiosas dos Fundadores. Se, de fato, eles se opunham a uma religião pública, o ex-governador se engana em suas proposições. Nada mais justo, portanto, que sugerir um reexame das cartas por eles trocadas de forma a não manter uma opinião equivocada.

Hum... Acho que vou pesquisar este tema!

Um mórmon na Casa Branca?


Mitt Romney, empresário mórmon e pré-candidato à Casa Branca

Nos posts anteriores, "Jefferson e Adams, homens do Iluminismo", expus a opinião de David Ignatius no The Washington Post acerca do discurso de Mitt Romney e prometi que buscaria o discurso.

Bem, descobri que o discurso, "A fé da América", pode ser lido na íntegra no site deste ex-governador do Estado de Massachusetts e que é do partido do presidente Bush.

Mas quem é Romney, o sorridente político da foto? E o que ele, como pré-candidato ao posto de presidente da maior nação do mundo, pode oferecer a seus eleitores e ao planeta?

Como governador, acumulou vitórias e derrotas. Conseguiu, por exemplo, vetar a medida que garantia o acesso à universidade aos filhos de imigrantes ilegais, mas foi derrotado nas intenções de impedir o financiamento das pesquisas com células-tronco embrionárias.

Adversário da imigração ilegal, deu poderes federais à Polícia Estadual para caçar e deportar imigrantes ilegais. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro e, em dezembro de 2006, uma reportagem do jornal "Boston Globe" revelou que a casa de Romney em Belmont empregava jardineiros em situação irregular no país.

Navegando na internet, por exemplo, encontrei um editorial do jornal Concord Monitor com o título intrigante "Romney NÃO deveria ser o próximo presidente". Bem, isso fica para um próximo post, pois agora eu quero relacionar este aos dois anteriores, isto é, tentar entender as razões de Ignatius para escrever sua coluna dirigida explicitamente ao pré-candidato Romney.

Um bom começo é ler e analisar o discurso deste homem de negócios-transformado-em-político, como alguns jornais dos EUA estão chamando-o.

"A América defronta-se com uma nova geração de desafios", alerta Romney a certa altura de sua fala. Do lado externo, o Islã, em sua face radical e violenta, a China emergente ameaçando a liderança econômica de seu país, e dentro de casa, os gastos governamentais excessivos, o uso exacerbado do petróleo estrangeiro e o colapso das famílias.

Apesar destes desafios à nação americana, Romney assinala que, em seu discurso, tratará de um ponto fundamental para a grandeza dos EUA: "nossa liberdade religiosa". Segundo ele, é uma questão a ser seriamente considerada face às ameaças que a Nação se depara. Pois, quando os Fundadores, diante dos maiores riscos para o país, pediram "as bênçãos de Deus". E mais, eles descobriram uma conexão essencial entre a sobrevivência de uma terra livre e a defesa da liberdade religiosa.

Adiante, o pré-candidato afirma que ele é um "Americano disputando a Presidência". E que ele não define sua candidatura por sua religião. Em seguida, penso eu, a sua declaração mais enfática: "Uma pessoa não deveria ser eleita por causa de sua fé, nem ser rejeitada por causa de sua fé".

Romney sublinha, no discurso, que nenhuma autoridade da sua Igreja ou de qualquer outra igreja exercerão influência sobre as decisões presidenciais. (No caso de ele conseguir vencer as prévias do partido e, depois, as eleições norte-americanas, superando os outros candidatos democratas)

O discurso é longo, então vou parar aqui, para continuar daqui a pouco...

Jefferson e Adams: homens do Iluminismo (parte 2)


As cartas entre Thomas Jefferson e John Adams

Continuando o post anterior, Ignatius observa que Adams (o simpático velhinho da imagem aqui postada), numa carta enviada a Jefferson (o senhor do post anterior) em 20 de junho de 1815, referira-se a:

"A questão diante da raça humana é se o Deus da natureza deve governar o mundo por Suas próprias leis, ou são os sacerdotes e reis que devem regê-lo por milagres fictícios?"

Atenta Ignatius que Adams desconfiava de sacerdotes e reis, mas que também se mostrava cético em relação aos filósofos revolucionários que tinham arruinado-os na França.

Na resposta de Jefferson a Adams, remetida em 5 de maio de 1817, aquele assevera a este sobre a "verdadeira religião" tal como baseada "em preceitos morais inatos no homem" e a "doutrina sublime do filantropismo e do deísmo ensinados por Jesus de Nazaré". Jefferson, continua Ignatius, contrastava assim, a verdadeira fé aos "dogmas sectários".

E se caso a versão sectária prevalecesse, preocupava-se Jefferson, melhor seria, portanto, concordar com as especulações de Adams, ou seja, de que "este seria o melhor dos mundos se não houvesse religião nele".

Em outra missiva de Adams, do dia 4 de novembro de 1816, portanto, anterior a esta de seu companheiro, ele declara:

"Temos agora uma Sociedade Bíblica nacional, para propagar a Bíblia do Rei James por todas as nações. Não seria melhor aplicar estas pias subscrições para purificar a Cristandade das corrupções do Cristianismo do que propagar aquelas corrupções na Europa, Ásia, África e América?"

Ignatus frisa que os Fundadores acreditavam em Deus, mas para muitos dentre eles, sua fé era uma questão profundamente privada, tal como Jefferson, em carta do dia 11 de janeiro de 1817, assinalara a respeito da sua fé, ou seja, "conhecida por meu Deus e por mim apenas". Com efeito, para eles, a demonstração pública da religiosidade consistia numa profanação de seu exercício interior e espiritual.

Na atual campanha presidencial nos EUA, destaca Ignatus, um dos temas tem sido definir se seu país sairá das políticas baseadas na fé que a administração Bush tem celebrado como a proposta mais racional e secular. Neste debate, religiosos conservadores gostam de enfatizar sua ligação com os Fundadores e com o nascimento da Nação como "uma nação sob Deus". No entanto, uma releitura das cartas entre Jefferson e Adams relembraria aos americanos, conclui Ignatus, que neste debate os Fundadores, como "homens do Iluminismo", estariam do lado do partido da Razão.

Jefferson e Adams: homens do Iluminismo


Colunista do Washington Post explica o que Thomas Jefferson e John Adams diriam a Mitt Romney

Em sua coluna de hoje, David Ignatius, escreve sobre a correspondência trocada pelos Pais Fundadores da Nação Norte-americana, Thomas Jefferson e John Adams, e como suas cartas deixariam claro o que os dois achariam sobre a religiosidade de muito da vida política moderna (dos norte-americanos, é claro): detestável.

"Não que eles fossem homens religiosos", considera Ignatius, mas homens "investigadores passionais da verdade, tanto física quanto metafísica". Neste sentido, conforme o colunista, o deísta Jefferson teria recortado o Novo Testamento e criado sua "Bíblia de Jefferson", ou mais formalmente, "A Vida e a Moral de Jesus de Nazaré", retirando as partes que ele considerava "sobrenaturais" ou que foram incompreendidas pelos autores dos evangelhos.

Ignatius chama a atenção para a utilidade de revisitar as meditações de Jefferson e Adams, "racionalistas americanos" como ele os chama, à medida que políticos e comentaristas têm sugerido que, para os Fundadores, a idéia de Liberdade era uma graça de Deus, ou como estabelece a Declaração da Independência, "todos os seres humanos são dotados pelo Criador com certos direitos inalienáveis".

A motivação de Ignatius para sua coluna do dia, ele aponta, foi o discurso de Mitt Romney, em 6 de dezembro, intitulado "A fé na América". (Procurarei o texto em breve) Segundo Ignatius, Romney fez uma esplêndida evocação da dupla herança da religião e da liberdade religiosa para os americanos até denunciar que os Fundadores "procuravam remover do domínio público qualquer conhecimento de Deus". A religião, segundo Romney, seria meramente um negócio privado, sem espaço na vida pública. Para Romney, os Fundadores intentavam fundar uma nova religião na América, a religião do secularismo.

Qualquer um que leia Jefferson e Adams, prossegue Ignatius, ou Franklin, Madison, Hamilton, ele acrescenta, pode fazer seu próprio julgamento e concluir que todos diriam: "Isto é conversa".

Egito vs Israel


Ministro egípcio reclama de "lobby" israelense para prejudicar relações entre o Egito e os EUA, segundo o jornal The Jerusalem Post.

O encontro entre o primeiro ministro de Israel, Ehud Barak, com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, foi azedado pelas acusações feitas pelo Ministro do Exterior egípcio, Ahmed Aboul Gheit (foto ao lado), sobre a suposta existência de um "lobby" israelense para prejudicar as relações políticas e econômicas entre o Egito e os EUA.

Um influente senador norte-americano, Arlen Specter, (o jornal não especifica se ele é o do Partido Democrata ou do Republicano) chegou a afirmar que as suspeitas de contrabando de armas do Egito para integrantes do Hamas na Faixa de Gaza, mostrava-se uma "situação intolerável" em função da cumplicidade do governo egípcio com o contrabando (e, evidentemente, a ajuda ao "grupo terrorista" palestino).

Caso o governo egípcio não se esforce para dirimir estas dúvidas, a ajuda norte-americana ao país pode passar a ser condicionada, assegurou o senador ao The Jerusalem Post.

Cumpre lembrar que os EUA dão ao governo de Mubarak, anualmente, 2 bilhões de dólares, que é uma quantia considerável.

Perguntado pelo The Jerusalem Post se confirmava o envio de vídeos para o Congresso dos EUA com o propósito de pressionar os políticos simpatizantes da causa israelense, Barak respondeu: "Nós não fazemos isto, somente respondemos quando somos perguntados".

Entretanto, as forças de segurança egípcias confirmaram a apreensão de armas, meia tonelada de explosivos e 1200 kilos de nitrato de potássio usados para confeccionar bombas contrabandeados na fronteira com a Faixa de Gaza.

Cá entre nós, que interesse o Egito pode ter em armar o Hamas?

A não ser que todo o discurso conciliador de
Mubarak, não passe de um engodo. Por outro lado, com que objetivo o governo israelense estaria tentando forçar a redução da ajuda financeira dos EUA ao governante egípcio?