sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A História Vigiada

Quem controla o nosso acesso ao passado?

Em livro escrito no ano de 1985, mas publicado aqui quatro anos depois, o historiador Marc Ferro fazia um alerta sobre as limitações impostas aos historiadores profissionais.

Assim, já no prefácio do livro, Ferro tecia considerações importantíssimas sobre aspectos da produção do saber histórico em nossa atual condição "pós-moderna" que merecem uma análise crítica.

Ferro principia seu escrito sinalizando para uma convicção pessoal de que "hoje, mais do que nunca, a história é uma disputa." Afinal, conforme ele
acertadamente aponta, "controlar o passado sempre ajudou a dominar o presente".

Para Ferro, portanto, quanto maior fosse a difusão do saber, maiores e mais rigorosos seriam o controle sobre a produção histórica. Controle este emanado do Estado e de seus organismos, mas também da sociedade, que se dedicaria a fazer todo tipo de "censura e autocensura" a "qualquer análise que possa revelar suas interdições, seus lapsos, que possa comprometer a imagem que uma sociedade pretende dar de si mesma".

O historiador francês então exemplifica recorrendo ao cinema e suas produções "históricas" para frisar que, nos Estados Unidos, em que a produção de westerns (os famosos filmes sobre o Velho Oeste) é infinita, existem "muito poucos filmes históricos em que os negros sejam colocados em cena". O mesmo podendo ser dito, continua Ferro, acerca das nações indígenas.

Por conseguinte, "a sociedade freqüentemente impõe silêncios à história; e esses silêncios são tão história quanto a história".

Assim, precisamos nos perguntar, ao lado de Ferro, "sobre as condições que determinam a produção e a natureza das obras históricas, quer dizer, que temas elas privilegiam, de que maneira os abordam e como esses dados evoluíram através do tempo".

Em breve voltarei a este assunto.




Nenhum comentário: