sexta-feira, 20 de julho de 2012

Contra fatos...


Um antigo adágio dizia: "contra fatos não há argumentos". Contudo, como assinala Wilson da Silva, no site da Cosmos magazine, há determinadas crenças que, mesmo quando contrapostas às mais completas evidências disponíveis, insistem em manter-se inabaláveis.

Segundo o texto, não há como envolver-se em debates com certas pessoas. Silva cita os que não creem nas mudanças climáticas, os criacionistas e um grupo que eu ignorava, o de pessoas contrárias à vacinação. Penso que a lista poderia se estender consideravelmente.

Caso se resolva discutir com pessoas caninamente fieis às suas crenças inabaláveis, é preciso ter clareza de um "fato": a cada falácia, concepção equivocada, inconsistência ou mesmo falsificação de dados que seja demonstrada por meio de evidências e raciocínio lúcido, sempre emergirão argumentos contrários tentando provar a incoerência das proposições científicas. Como ele sublinha, "é como entrar numa luta contra a Hydra, a serpente mítica com 100 cabeças que, mesmo quando qualquer uma delas é fatalmente atingida, logo uma outra cresce em seu lugar".

Em abril deste ano, Silva participou de um encontro de jornalistas da ciência e pesquisadores sociais na Universidade de Wiscosin (deve ter sido muito maneiro) onde discutiu-se a Escrita da Ciência em um Era de Negação. No encontro, um dos presentes, o professor de biologia molecular e genética Sean B. Carroll, listou os seis passos usados por todos os negadores da ciência:

1. Duvidar da ciência. (Conheço muitos)
2. Questionar os motivos e os interesses dos cientistas. (Conheço poucos)
3. Maximizar as discordâncias normais e legítimas entre cientistas e citar como autoridade discursos não-científicos. (Conheço muitos que agem assim)
4. Exagerar os danos potenciais da crença na ciência (e amedrontar as pessoas). (Conheço também que age desse jeito)
5. Apelar para liberdade pessoal, argumentando que nenhum governo deveria dizer quais vacinas eu preciso tomar. (Não conheço ninguém assim)
6. Mostrar que aceitar a ciência representaria repudiar a filosofia comum compartilhada ou visão de mundo albergada pela maioria das pessoas.

Outro participante, citado por Silva, o escritor de ciência Christie Aschwanden, observou que as pessoas não assimilam os fatos em um vácuo, mas as filtram conforme seus sistemas de crenças pré-existentes. Nesse sentido, as pessoas demonstram tendência a procurar evidências que se conformem às suas visões. Implica dizer, "buscamos os fatos que confirmam o que já acreditamos e rejeitamos aqueles que contradizem nossa visão de mundo".

Silva frisa que levar fatos a uma audiência que não quer ouvi-los é caminho para um impasse. Afinal, quanto mais forte a crença pré-existente, mais forte é a motivação para rechaçar a evidência contrária. É preciso ser sempre respeitoso com sua audiência, ele diz. Porém, deve-se defender com todas as forças as evidências e manter-se firme contra charlatães.

Silva sugere, digamos, técnicas para facilitar a explanação de evidências científicas e lograr mudar a visão das audiências. Uma delas, e que ele considera essencial, é o uso do humor. Embora ciência seja um assunto sério, isso não significa que ela não possa ser discutida por um lado engraçado, "especialmente aquele lado que gentilmente ridiculariza seu oponente". Com efeito, "enquanto sua audiência ri, você sutilmente trouxe seus ouvintes para mais perto do seu campo".

O artigo prossegue ainda por algumas linhas, mas nada muito relevante. As ideias mais importantes estão aí para você ler e pensar.

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