terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A caminho de Kandahar

Sem final feliz, como a vida.

Assim como a vida, filmes não precisam ter final feliz. Por causa de uma "educação" teleológica, que nos diz que, no fim, tudo dará certo, vivemos com a crença de que qualquer um conseguirá a realização plena. Que todos os objetivos serão conquistados, que todos os amores serão vividos. Que o príncipe ou princesa encantados existem e estão nos esperando na próxima esquina.

Em função deste discurso auto-ilusório, causa um grande impacto acompanhar o desenrolar do belíssimo filme-documentário de Mohsen Makhmalbaf, A caminho de Kandahar, torcer pelo destino da personagem Nafas, muito bem vivida pela atriz afegã Niloufar Pazira, esperar que ela consiga chegar na dita cidade antes que sua irmã cometa o suicídio, e, no fim da projeção, descobrir, angustiado, que ela não consegue...

Ao voltar para o país que abandonou devido à guerra, Nafas assume a missão de resgatar sua irmã do desejo de tirar a própria vida. Entretanto, sendo uma mulher, nada é fácil para ela quando tenta atravessar o país dos talebãs. O país em que as mulheres são obrigadas a se cobrirem por inteiro com as burkas, escondendo seus rostos, seus corpos, anulando suas identidades.

A cada passo da caminhada, em sua jornada salvacionista, a fome, a desolação, a morte, a desesperança, são algumas de suas companheiras. Cada pessoa com quem ela trava relações, do velho a quem ela paga para se fazer passar por esposa, do menino talebã que lhe guia pelo deserto, do médico ao talebã malandro, fazem-nos crer que ela irá alcançar seu propósito.

Afinal, "nada acontece por acaso", e, mesmo no país do fanatismo e obscuridade dos talebãs, uma mulher, sozinha, tem que conseguir chegar a Kandahar. Bem, não chega a ser uma decepção descobrir que seu objetivo não é alcançado. Pois, não dá mais para continuar sendo ingênuo e pensar que tudo obedece a uma ordem e que todos terão um "happy end".


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