sexta-feira, 14 de março de 2008

"Cristianismo Redivivo" outra vez

Colunista de revista de espiritismo volta a propor diálogo assimétrico entre a História e a Fé religiosa

Em posts anteriores comentei a coluna da revista "Reformador", órgão de divulgação da Federação Espírita Brasileira, criada com o propósito de "preencher as lacunas" da pesquisa histórica sobre Jesus e o Cristianismo Primitivo e chamada "Cristianismo Redivivo".

Na edição da revista deste mês de março o Sr. Haroldo Dutra Dias volta ao assunto. Só agora notei um outro detalhe importante da coluna: seu subtítulo. Além do alegado diálogo, o autor pretende contar também a "História da Era Apostólica". Até o presente momento, porém, está só na intenção, pois nada foi escrito a respeito.

História da "era" apostólica à parte, vamos ao que me (des)interessa.


Um longo itinerário foi percorrido para que pudéssemos resumir as fases da pesquisa histórica sobre o Cristianismo, antes de compará-la com o material revelado pela Espiritualidade superior.


Foi preciso muita paciência para acompanhar o "longo itinerário" percorrido pelo colunista. Da pesquisa histórica mesma ele escolheu aqueles trabalhos que o interessavam à medida que reiteravam e atestavam o seu ponto de vista peculiar e os seus propósitos apologéticos confessionais.


Novamente, utilizamos como epígrafe a citação do historiador John P. Meier, (...), considerado um dos mais eminentes pesquisadores bíblicos de sua geração.


O "novamente" aparece aqui, não pelo simples fato de Meier retornar ao texto da coluna, mas porque o Sr. Dias quer novamente convencer seus leitores de que a pesquisa histórico-científica sobre Jesus é limitada em todos os sentidos. Como Meier acentua que o Jesus real, isto é, o camponês judeu que viveu na Palestina do século I está irremediavelmente inacessível nos tempos atuais, o Sr. Dias toma isto como a senha para vaticinar a insuficiência da pesquisa historicamente orientada.

Propondo como solução um "diálogo com a Doutrina Espírita", sem a intenção de "desprezar a Ciência, desprezar suas conclusões, numa atitude mística incompatível com a fé raciocinada".

O que vêm a seguir são citações de Allan Kardec e do espírito Emmanuel que retratam o Cristo da fé conforme as premissas do espiritismo. Implica dizer, sai de cena o Jesus histórico e entra o Jesus "espírito puro", "governador espiritual da Terra", blá-blá-blá.

Acompanhando os argumentos do colunista, ou a tentativa de diálogo, observa-se:


... os instrumentos científicos da moderna pesquisa histórica não são capazes de nos mostrar o "Jesus real". Talvez seja essa a razão pela qual os historiadores, como demonstrado nos artigos anteriores, acabam por apresentar uma imagem distorcida de Jesus.


"Imagem distorcida de Jesus"? Não se pode negar a legitimidade do desejo do Sr. Dias em fazer prevalecer a sua opinião sobre qual seja a "real" imagem de Jesus. É esta uma das atribuições do discurso religioso: mostrar que a ciência é incapaz de expressar a realidade das coisas e que só a revelação espiritual é a dona da Verdade.

Do ponto de vista da fé o esforço do Sr. Dias está corretíssimo. Mas ele se engana ao sustentar que o Jesus "real" é o que ele retrata. Pelas citações que faz, fica claro que ele diviniza Jesus e, enfim, o que está propondo aos seus leitores e simpatizantes é o Jesus do espiritismo.

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