sexta-feira, 7 de março de 2008

Eleições na Rússia (parte 3)

Independent: eleição de cartas marcadas. Onde está a democracia?

Continuo, com certo atraso, a apresentar e analisar as coberturas jornalísticas estrangeiras sobre as eleições presidenciais russas. Quem leu o último post deve estar com a abordagem de O Globo ainda na lembrança. Caso não, recomendo reler a parte 2.

Prossigo, portanto, trazendo para reflexão, a matéria que saiu no jornal inglês The Independent do dia 2 de março. Comparando a sucessão presidencial às bonequinhas russas (imagem acima), o diário inglês começa o texto apontando para um fato amplamente conhecido: que a eleição apenas vinha confirmar que Medvedev seria o sucessor de Putin.

"Sua eleição (de Medvedev) era uma conclusão prévia desde que o Presidente que estava deixando o posto deu-lhe apoio", assinala a matéria. Implica dizer, tirando o jornal O Globo, um amplo consenso de analistas internacionais dava como certa a vitória do candidato governista antes mesmo do resultado das urnas.

Pelas evidências de um jogo de cartas marcadas, pode-se afirmar, como fez o jornal carioca, que a vitória de Medvedev foi legítima?

O Independent menciona também, semelhante a o que os outros periódicos comentaram, que a oposição ao candidato da situação foi escolhida a dedo a fim de não se tornarem um perigo para sua vitória. Se apenas um jornal estrangeiro tivesse oferecido este argumento, seria até de se desconfiar. Entretanto, como são vários compartilhando da idéia (ou da informação), é necessário pensar seriamente nisto.

Em outras palavras, os diários estão considerando que, na Rússia, a oposição (1) não teve força o suficiente para contrapor um discurso atraente e alternativo e (2) foi desarticulada e manobrada pelas forças políticas situacionistas.

De fato, a conclusão que o jornal dá sobre as eleições russas frisa, ao mesmo tempo, a incapacidade dos partidos políticos oposicionistas de renovarem suas lideranças nos últimos 20 anos e de surgir um político capaz de fundar um novo partido no país. Tudo isto redundando na pobreza do desenvolvimento da democracia russa.

Um comentário:

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro historiador, devo elogiar a comparação que fez da imprensa internacional com o Globo quanto às eleições russas, mas considero que as coisas deveriam ter merecido uma análise mais profunda.
Eu, como jornalista luso em Moscovo, considero que, em eleições normais, democráticas e abertas, Medvedev poderia ganhar. A Rússia passa por um período de prosperidade económica (sólida ou não, isso é outra questão)e o eleitorado está numa onda de consumismo.
Porém, as eleições na Rússia tiveram muito pouco de democrático porque a elite dirigente tem medo da discussão aberta de ideias e programas.
Mas num mundo de duplos padrões, o principal são os interesses dos grandes grupos económicos. Daí as eleições na Geórgia, Arménia terem sido tão "democráticas" como as russas, mas organizações internacionais como a OSCE, UE, etc. terem tido opiniões diferentes sobre a legitimidade desses escrutínios.