sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Cego guiando cegos

Prosperidade da Igreja do "Bispo" Macedo deve-se a religião "de resultados", diz The Economist.


Na edição desta semana da revista britânica The Economist, foi publicada uma reportagem nada positiva a respeito da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) do "Bispo" Edir Macedo. Apontando o Brasil como um solo fértil para o pentecostalismo, um ramo do cristianismo que acredita que Deus opera milagres para seus fiéis tão regularmente que podem ser escritas no momento em que acontecem, a reportagem define a IURD como o terceiro maior grupo pentecostal do Brasil, mas o mais ambiciosos dentre todos eles.

O gigantismo e as pretensões da igreja do "Bispo" são visíveis quando se contabilizam 172 filiais em todo o mundo, um partido político e uma rede de televisão própria. Mas o foco é sobre o "homem por trás do conglomerado religioso". Definido pela revista como o empresário religioso mais bem sucedido do mundo, o "Bispo" não concede entrevistas, embora dois jornalistas tenham publicado (pela editora do grupo religioso) uma biografia de Macedo.


A reportagem mostra que, apesar do subtítulo da biografia "A História Revelada", nada de substancial é dito sobre a "história" do "Bispo". Pelo contrário, são detalhes triviais que perpassam a obra inteira, como, por exemplo, a colônia preferida de Macedo -- Acqua di Parma -- e uma discussão sobre a coleção de gravatas italianas de seda do fundador da IURD. Mas não há nada sobre as finanças da Igreja, acrescenta a reportagem.

Resumindo em poucas linhas a trajetória do "Bispo", desde o subúrbio pobre de São Cristóvão até seu trabalho numa lotérica no Rio, a The Economist assinala um fato curioso: a biografia de Edir Macedo, sua "história revelada", curiosamente omite a sua conversão do catolicismo para o pentecostalismo.


Desde sua fundação, em 1977, a Igreja concentra-se na afirmação de que os fiéis deveriam ser recompensados por sacrifícios, normalmente sacrifícios do tipo financeiro. Aos seguidores, continua a revista, é pedido que doem 10% de sua renda; a "igreja de resultados" recompensará os fiéis então com bençãos, na forma de curas milagrosas ou sucesso para suas famílias ou no trabalho. Os serviços da igreja, em geral, giram em torno de testemunhos destes resultados.

A revista então cita o "Bispo": "Ofertas (a Deus) são investimentos".


Acusado de vender a teologia da prosperidade aos mais pobres, explorando a credulidade dos desesperados, Macedo defende "com robustez", no livro, a si próprio. Aqueles que não ganham nada, diz o "Bispo", podem aproveitar do ar-condicionado do amplo salão e usar o banheiro da Igreja de graça. Eles podem, inclusive, deixar de beber, parar de bater em suas esposas e unir-se à igreja.

"A quem eu tenho prejudicado? Esta é a questão: a quem eu tenho prejudicado?", pergunta o "Bispo", numa clara alusão à Igreja Católica pelo elogio que esta faz à pobreza.


Em seguida a revista esclarece o programa do Partido político de Macedo, mais pragmático do que ideológico, afinal, seus membros não são hostis ao aborto. Sua proposta principal parece ser defender os interesses da Igreja protegendo-a dos ataques de seus poderosos inimigos, que incluem a Igreja Católica e a Rede Globo.

A reportagem abre e fecha reproduzindo cenas típicas do cotidiano da Igreja. Exorcismos e brados a Deus, com pessoas chorando e erguendo seus braços para o alto. E o "Bispo" solicitando oferendas em dinheiro.

"O sacrifício é divino", afirma Macedo a sua congregação.


"Talvez seja, mas inventar um modelo de negócios genial é humano", finaliza a revista.


Um comentário:

Luciana Mendes disse...

A Igreja Universal não é nada mais nada menos que uma adaptação da religiosidade ao atual mundo globalizado. Impossível não achar 'genial' uma empresa tão lucrativa, com um amplo mercado consumidor e utilizando-se de tão baixos custos de produção.
Assim como nos variados ramos existentes, seus serviços prestados não são impostos. Não vejo motivo algum para essa aparente 'pena' que surge em relação aos fiéis da Universal. Cada um é livre para investir suas finanças da maneira que mais lhe agrada, seja pobre, rico, anônimo ou famoso.

Muito bom o post. Primeira vez que estou acessando o blog, gostei bastante! :)