sábado, 5 de janeiro de 2008

O nascimento de Jesus

Record lança novo livro de Geza Vermes sobre o nascimento de Jesus

Em uma velocidade espantosa para os padrões normais, a editora carioca traduziu e lançou o mais recente livro do historiador húngaro judeu, Geza Vermes, intitulado, aqui no Brasil, de "Natividade". Depois que a editora Imago, que criou até um selo específico, começou a traduzir os livros e autores mais representativos, e alguns outros polêmicos e pouco necessários, tudo parecia que nós, brazucas, teríamos, enfim, acesso às pesquisas de ponta no campo dos estudos históricos sobre os judaísmos e cristianismos dos primeiros séculos da Era Comum.

Ledo engano. O público brasileiro queria mesmo era a literatura romanceada e nada fundamentada de picaretas do tipo Dan Brown e seu "Código da Vinci". Conclusão: a Imago parou de traduzir e lançar aqui em Pindorama as melhores pesquisas neste campo.

Restando para nós, duas alternativas: comprar os livros caros da Paulinas e da Paulus, ou importar os livros originais e torcer para o dólar não pegar o elevador subindo.

Eis que a Record, sabe-se lá por qual motivo, começou a traduzir esta literatura, mas concentrando-se apenas nos livros do historiador Geza Vermes. Inexplicável opção. Embora as escolhas, como não poderia ser diferente, tenham focado nos livros de Vermes de pouco valor historiográfico, mas de grande apelo comercial.

Até agora foram quatro da lavra de Vermes. Ontem, comprei o mais recente dele, "Natividade", e terminei sua leitura agora pela manhã.

Bem, desde "A religião de Jesus, o judeu", que Vermes não produz algo que valha a pena ler.


Aliás, sobre o assunto das narrativas do nascimento de Jesus em Mateus e Lucas, desde o portentoso livro do falecido exegeta católico Raymond Brown, "The Birth of Messiah", com suas 752 páginas, e as explicações magistrais de John Dominic Crossan em suas obras, não há nada mais que possa ser tratado sobre o tema.

O livro de Vermes, portanto, chega a reproduzir algumas páginas do grosso volume de Brown, menciona, sem citar, as originais explicações de Crossan, e não acrescenta nada ao que nós pesquisadores não saibamos. O livro é quase desnecessário.

Achei legal, contudo, a coragem de Vermes em criticar o comercialismo atual dos festejos natalinos, implica dizer, a perda do sentido real da data para os cristãos, em que a mesa farta e a troca de presentes obscurecem o fato que é Jesus, e não Papai Noel, que deve ser homenageado nesta data.

O outro ponto que também merece nota é a outra crítica que Vermes faz aos historiadores que, no curso de suas pesquisas, se fazem prisioneiros de suas confissões religiosas, prejudicando o resultado de seus trabalhos, como o próprio Brown e John P. Meier.

Tomara que a Record traduza de Vermes The Essenes According to the Classical Sources.

2 comentários:

Blogildo disse...

Eu sou totalmente contra a comemoração da natividade. Principalmente na data que é comemorado hoje: 25 de dezembro, definitivamente, não foi o dia que Jesus nasceu.

informadordeopiniao disse...

O problema no comentário de Vermes sobre Brown e Méier (que poderia ser extendido a N.T.Wright, Ben Whiterington, Richard Bauckham e outros) é que se confunde temeridade com coragem; e é uma forma de tentar desvirtuar o que nestes comentaristas se tem como cautela, ponderação e "pé-no-chão". Nesse sentido, Vermes aparece como presunçoso.