domingo, 6 de janeiro de 2008

Ciência e Religião (parte 2)

O debate sobre Deus

Habgood aponta ainda que a intolerância não está restrita ao Novo Ateísmo. O mesmo pode ser dito em relação ao fundamentalismo religioso e, no fim das contas, os dois extremos merecem-se um ao outro. O bacana é o que ele afirma em seguida: "as conseqüências deste mútuo desprezo e abuso são trágicos, porque há muito a ser aprendido do encontro criativo entre uma ciência evolucionária, consciente de seus próprios limites e uma teologia auto-crítica, fundamentada em uma consciência do mistério fundamental de sua matéria de estudo".

Ditas estas coisas, Habgood finalmente aborda o primeiro livro, de Tina Beattie, intitulado "Os Novos Ateus" (cujo subtítulo é O crepúsculo da razão e a guerra da religião). Nele, a autora faz um apelo para a redescoberta da esquecida arte da conversação, da tranqüila e cortez voz da sabedoria e do valor da amabilidade no trato uns com os outros. (A quem interessar possa: é possível comprar este livro pelo preço de 25 dólares, fora a taxa de importação)

A autora assinala que o extremismo religioso em nosso tempo tem muito a se responsabilizar por isto, mas deveria ser proveitoso se houvesse um reconhecimento de que regimes ateus têm sido igualmente, se não mais, culpados. Os assassinatos excessivos do século XX foram, em sua maior parte, não religiosamente inspirados, apesar de ser uma verdade lastimável que alguns deles o foram.

Por conseguinte, embora seja fácil culpar crenças ou regimes particulares pela violência ou outras formas de maldade, a raiz do mal, como o cristianismo deixa muito claro, segundo a autora, está na natureza humana, daí porque é fútil e perigoso tentar externalizar o mal projetando a culpa sobre a religião ou sobre a ciência.

Para Beattie, o debate sobre Deus tornou-se cheio de vícios, desesperando-a por sua pouca profundidade e pelo perigo que isto fornecerá mais munição ao extremismo religioso. Assim, ela está convencida de que o cristianismo necessita dos insights do secularismo e precisa reconhecer o que está subjacente na presente obsessão pelo pós-modernismo, ou seja,

"a face oculta da cultura pós-moderna é uma forma de desesperança, pois nosso multicuturalismo esconde um caos de valores e significados. No século XX, a fé em Deus se tornou uma impossibilidade para muitas pessoas, não porque a ciência ou a razão deram todas as respostas ao mistério da vida, mas porque a escala de sofrimento da humanidade e a capacidade de causar violência retirou toda a possibilidade de conceber e acreditar num Deus justo e amoroso."

Todavia, ela acrescenta, permanece um desejo por Deus. E é na literatura, na arte e na música que teremos que procurar para satisfazer esta ânsia por Deus. "Na sua maior profundidade, a fé não é uma resposta às questões da Vida, mas uma disposição para viver na escuridão de saber que existem algumas coisas que nunca saberemos". A visão apaixonada de Beattie deste cenário complexo acarreta num apelo constante para um entendimento mútuo. Ela é, conforme sublinha Habgood, uma boa guia e uma leitura que vale a pena.

Quem quiser saber mais sobre Beattie, basta acessar o site pessoal dela em:http://tina.beattie.googlepages.com/home

3 comentários:

palavras sobre qualquer coisa disse...

Grande Lair! Não sabia que você tinha um blog, e aviso de antemão, adorei! Acho o tema que você pesquisa incrível e seu blog é muito bem feito. Sei que perderei horas lendo-o e matando minhas enormes curiosidades. E ainda agora, que vai arrebentar no mestrado (e disso tenho certeza)e desenvolver mais conhecimentos. Fico muito feliz em você ler e gostar do meu blog, apesar de ser um blog acadêmico. Porém fiz um post sobre minha disssertação defendida e caso te interesse posso enviá-la por email. Saibas também seu blog já está linkado no meu. Vamos trocar figurinhas e idéias por eles, ok?

Aquele abraço.
Vinícius Silva.

palavras sobre qualquer coisa disse...

adendo: de "não" ser um blog acadêmico

Blogildo disse...

Há debates bastante interessantes dessa natureza do blog "Polegar Opositor". De vez em quando eu bato um papo com o pessoal de lá. Vale a pena conferir.