terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Por la familia cristiana: repercussões

Convocação de católicos foi um ato político, diz editorial do El País


A manifestação orquestrada pela alta cúpula da Igreja católica espanhola, com o apoio do Vaticano, que levou às ruas de Madri 160 mil católicos num gesto de descontentamento contra o governo "ateu" do premiê Zapatero, que comentei ontem, mereceu um ácido editorial na edição de hoje do jornal espanhol El País.

Segundo o editorial, o ato nada mais foi do que um comício político que reflete uma obsessão da alta hierarquia católica. A oposição da Igreja às medidas legais do premiê, por ela consideradas iníquas, significaria a negação da existência de outra família que não a heterossexual. (Aliás, algo que eu postei ontem. Os homossexuais têm os mesmos direitos que os hetero de constituir famílias)

Tratar-se-ia, enfim, de uma obsessão da Igreja e, como toda obsessão, sublinha o editorial, "exclui a reflexão e a autocrítica". Ainda conforme o jornal espanhol, "a insistência de que só existe um tipo de família reconhecível e defensável é um comportamento teocrático e que bem demonstra o pouco respeito à independência do poder civil ou laico frente às férreas posições de uma confissão religiosa, muito respeitáveis, desde que não tratem de impor-se aos outros".

O jornal continua sua investida contra o ato dos bispos de Espanha, batendo mais forte. Assim, recomenda aos clérigos que avaliem as causas pelas quais o discurso da Igreja encontra cada vez menos crédito. Ninguém ataca a família, diz o editorial, e se há uma crise nela isto se deve a estreiteza de vistas com que seus defensores têm se empenhado ao negar que a sociedade aceita outras formas de convivência baseadas em princípios de afetividade e respeito, que a própria Igreja afirma defender.

As críticas do cardeal de Valência, de que o laicismo conduz a dissolução da democracia, são criticadas pelo jornal por meio do argumento de que a democracia se dissolve quando aqueles que devem respeitá-la, "como os bispos", irrompem desrespeitosamente em tarefas que não lhes cabem.

De fato, é comum que a Religião cerre fileiras com o imobilismo, negando os avanços imprescindíveis para uma sociedade mais justa e equilibrada. No Brasil, por exemplo, o golpe civil-militar que estabeleceu uma ditadura de 20 anos, sufocando a liberdade, contou com o apoio de amplos segmentos do catolicismo, do protestantismo, do espiritismo, etc.

E quando no seio da Religião levantam-se sujeitos denunciando como o Poder asfixia o Carisma, a Estrutura não se faz de rogada: desqualifica esses sujeitos, atacando seus discursos, "demonizando-os" para, com o apoio da maioria dos fiéis, silenciar, expulsar ou exterminar, simbolica ou fisicamente, esses "elementos da discórdia".

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