
Com o título "Adriano, o imperador gay", a edição de hoje do jornal britânico The Independent chama seus leitores para uma exposição curiosa no British Museum: esculturas, artefatos e fragmentos que revelam um lado (não gosto muito deste termo) menos conhecido do imperador Publius Aelius Traianus Hadrianus, ou seja, sua homossexualidade.
A reportagem, apesar de destacar a exposição, nada sutilmente faz referências ao contexto geopolítico atual. Assim, ao caracterizar o imperador, diz que ele não foi apenas um "imperador comum", mas o governante máximo romano que "arrancou seus soldados de volta do atual Iraque". Além disso, continua a matéria, ele foi o primeiro imperador romano a deixar claro que era gay.
A exposição intitulada "Adriano: Império e Conflito" espera, mais do que atrair visitantes para ver as peças em exposição, capturar o interesse do público para a singular história de vida do "imperador gay". Segundo o The Independent, Adriano retirou suas tropas do atual Iraque, poucas horas após sua coroação e mandou fortalecer as fronteiras do império através da construção de fortificações contínuas, entre as quais, a Muralha de Adriano, demarcando a fronteira entre a Escócia e a Inglaterra atuais.
A "era de paz", trazida por Adriano, poderá ser vista em 200 tesouros antigos, muitos dos quais jamais tinham sido expostos na Inglaterra. Mas diversos artefatos da exposição referem-se ao seu consorte, "o belo jovem grego Antínoo", que o acompanhava em suas viagens pelo império. Entre eles, um poema escrito sobre papiro descrevendo dois homens caçando juntos.
A reportagem continua, detalhando algumas das peças inéditas que ficarão expostas, sublinha o gesto incomum do imperador de "oficializar" seu amante, mas, ao que parece, seu desejo mesmo é o de ressaltar as razões que fizeram Adriano retirar seus exércitos da Mesopotâmia, atual Iraque.
Conforme informa ao jornal britânico o curador da exposição, Sr. Thorsten Opper, Adriano "realmente não tinha escolhas a fazer." Havia uma porção de lutas de guerrilha na região, "misteriosamente iguais as dos tempos modernos", prossegue Opper, e a atitude do imperador propiciou ao Império "uma pausa para respirar".
Enfim, tudo indica que a exposição artística possui uma mensagem política subjacente. Poderia até ser o caso de se questionar por que, entre tantos outros imperadores de Roma, Adriano foi o escolhido. Aparentemente a sua homossexualidade declarada configuraria um chamariz de público, à medida que desmontaria um senso comum segundo o qual os grandes imperadores da antiguidade seriam modelos de masculinidade e virilidade.
Entretanto, os ingleses têm dado mostras de crescente insatisfação com a permanência de seus soldados no Iraque. Reportagem da The Economist, da edição da semana de 19 de dezembro de 2007, com o título "Batendo em retirada", questionava a necessidade de serem mantidas tropas no território ocupado. Conforme a revista, a presença militar britânica, desde 2003, despendeu cerca de 10 bilhões de dólares ao país e as vidas de mais de 170 soldados.
De qualquer maneira, se a exposição terá sucesso de público ou não, se irá suscitar mais questionamentos acerca da ocupação inglesa no Iraque ou não, o mais importante é mostrar que o conhecimento da História ainda é útil e que o passado tem profundas conexões com o presente.
Um comentário:
A mais antiga face da imprensa, sensacionalismo ate sobre fatos historicos. Venda explicita de um jornal como outro qualquer do mundo ou apenas, interesses de outrem em promover esta materia pobre!!!!
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